Apaixonados, Axioma
Palavras e conceitos às vezes se atraem, se tocam, se roçam, se chocam. Entre metáfora e ironia, por exemplo, a distância é pequena: a metáfora revela algo ao falar de outra coisa, enquanto a ironia revela algo ao afirmar exatamente o seu oposto. O mesmo se dá com axioma e teorema: o axioma é um ponto de partida e, portanto, indemonstrável. Essa indemonstrabilidade é o que o define, o esgota até: não tem muito mais a dizer a respeito do axioma. Já o teorema precisa ser demonstrável. Para que qualquer afirmação possa ser considerada um teorema, tem que ser possível prová-la. Mundos distintos, universos quase opostos e, contudo, inseparáveis, porque os axiomas são os alicerces em que se apoia a maioria dos teoremas. Nada pode ser demonstrado ao infinito, sempre se chega em algo indemonstrável. Etimologicamente, dizem que axioma sugere algo que está em equilíbrio, já teorema remete à ideia de espetáculo. E é exatamente assim: o esforço de provar um teorema nunca é isento de um certo exibicionismo, mas, no fim das contas, permanecemos em equilíbrio sobre coisas que não sabemos, não entendemos, ou que pelo menos não podemos provar. E talvez nem queiramos, porque há uma beleza inegável no que não pode ser explicado ou comprovado, só sentido, como a paixão, ou como o amor.
Apaixonados é uma exposição experimental, quase abstrata (se é que pode existir uma exposição abstrata) sobre a paixão, ou sobre o amor. Ou sobre a atração, para ser mais exato, entre corpos, objetos, palavras, peças, conceitos, materiais que se buscam, se encontram, se imantam. A atração que algumas obras de arte parecem exercer sobre outras. Às vezes por afinidade, às vezes por oposição, criando estranhos equilíbrios e desequilíbrios de poder, contradições, decepções, um desejo de estar juntos para sempre, ou de fugir e nunca mais voltar. Como pessoas que se conhecem, se perdem, se encontram de novo, caminham juntas mesmo indo para lugares diferentes. Essa atração pode ser perigosa, pode ser excessivamente potente, arrastar tudo pelo caminho. Nesse sentido, esta é também uma exposição sobre a gravidade, sobre o choque e, no limite, sobre a explosão e a destruição que são o fim utópico de qualquer força de atração, como a do meteorito pelo planeta no qual se esfacela, ou a da mosca pela lâmpada que a queima. A paixão, como o amor, é evidente e incontornável, e, como um axioma, não nos diz nada que a gente já não soubesse mas não consegue verbalizar. Porque a paixão, como muitas das obras aqui reunidas, fala uma língua que não tem palavras.
Jacopo Crivelli Visconti
Curador
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